AM+FM: Desperdício de canais e desemprego
http://www.tvsdorj.com/2011/08/radios-do-rj-amfm-desperdicio-de-canais.html
Continuando esta série inicial abordando alguns problemas do rádio do Rio de Janeiro e do Brasil, agora tratarei do mais controverso deles: as rádios que fazem dupla transmissão da mesma programação em AM e FM, que eu chamo de rádio AM+FM, a variação mais vil do problema das rádios AM em FM, já abordado aqui.
Rádios brasileiras que tem simultaneamente um canal de AM e outro de FM na mesma região ou cidade há desde que surgiu oficialmente o FM no Brasil. Mas, ao longo da história, a tradição era de que a rádio AM tivesse uma programação de AM, falada, com comunicadores, debates, jornalismo prolongado, algumas músicas, programas e transmissões esportivas, enquanto que a rádio FM, mesmo tendo o mesmo nome, tinha uma programação musical e cultural, com jornalismo discreto, para cumprir o mínimo que toda rádio deve ter, que é de 5% da grade, podendo ser notícias espalhadas ao fim de cada módulo musical, um noticiário curto de hora em hora ou até mesmo um jornal falado inteiro de meia hora, apenas uma vez por dia. O rádio AM+FM é algo diferente disso, porque consiste na transmissão da mesma programação, do mesmo grupo e com o mesmo nome fantasia em dois canais: um AM, outro FM
Esse tipo de operação, logo de cara, tem uma torpe justificativa dos radiodifusores: "agora nosso ouvinte pode escolher nos ouvir em AM ou FM". Só que os "ezecutivos" radiofônicos não falam da perda de um direito verdadeiro: o de o ouvinte escolher ouvir uma programação diferente. Colocar uma rádio transmitindo simultaneamente em AM e em FM impede a transmissão de uma programação alternativa no FM. Essa FM acaba virando uma opção a menos no dial FM, ao invés de "uma opção a mais". Só isso deita por terra outras justificativas dos "ezecutivos": a de que o rádio AM tem mais interferências e de que muitos dispositivos móveis não sintonizam AM, porque nisso as rádios que optam por transmitir só em FM fazem melhor: não ocupam dois canais simultaneamente. Mesmo considerando que transmitir AM em FM é uma atitude condenável, como descrevi aqui. Mas pior que fazer AM em FM é fazer AM+FM.
Outra consequência do rádio AM+FM é o desemprego entre os radialistas. Pra fazer uma rádio dessas, os radiodifusores geralmente demitem profissionais das rádios AM e FM fundidas. Os caras multiplicam seus lucros, pois fazem uma única programação, pagam apenas um quadro de funcionários, acrescido apenas do custo de mão-de-obra e de equipamentos necessários para manutenção de dois parques de transmissão, mas cobram pelos anúncios nas duas frequências. Para as "otoridades" governamentais, são duas emissoras, e se são pessoas jurídicas distintas, os bancos que concedem financiamentos também consideram serem duas empresas. Mas, na prática, é uma só rádio gerando lucros maiores para o radiodifusor. Para o ouvinte, são dois canais desperdiçados com a mesma programação, quando uma delas poderia estar transmitindo uma grade diferente..
Os primeiros registros de emissoras de grandes cidades com transmissão simultânea da mesma programação em AM e FM datam dos anos 90. Uma das primeiras foi a CBN de São Paulo, por volta de 1995, seguida pouco tempo depois pela Rádio Bandeirantes. A praga se espalhou pelo país nos anos 1990 e 2000. Em Salvador, Rádio Metrópole. Em Belo Horizonte, Rádio Itatiaia. Porto Alegre já tinha a Rádio Gaúcha, do Grupo RBS, e eis que recentemente o Grupo Record-IURD fez o desfavor de acabar com a adulta Guaíba FM pra tranforma-la em repetidora da Guaíba AM.
Nessa história toda, o Rio de Janeiro se transformou, infelizmente, na capital brasileira do rádio AM+FM, com TRÊS rádios. A primeira foi a CBN, presente simultaneamente em AM 860 e FM 92.5 desde 4 de julho de 2005, a partir da extinção da Globo FM, com a ilegítima justificativa de concorrer no FM com a recém-inaugurada Band News Fluminense FM 94,9. A coisa desandou de vez em 1º de junho de 2009, com a inauguração do canal simultâneo de FM 96,5 da Tupi AM 1280, que arrendou (e exterminou) a histórica Antena 1 Lite FM 103,7, jogou para lá a sua Nativa FM (que era em FM 96,5, canal próprio do grupo Associados) e transformou a 96,5 em repetidora da Tupi AM, não restaurando a Tupi FM original, que era uma rádio que tocava música instrumental e standards de diversos países. Não demorou muito para que o Sistema Globo de Rádio seguisse o mau exemplo. Inicialmente fundiu as equipes de esportes de suas rádios Globo e CBN, para que a equipe de esportes da Globo usasse o canal de FM da CBN para concorrer com a Tupi em FM. Essa fusão das duas equipes de esportes durou até a Copa do Mundo de 2010, porque depois o SGR fez pior. Em 4 de maio de 2010, a Rádio Globo assumiu (comprando ou arrendando, essa história ainda tem que ser esclarecida) o controle da antiga FM 89,3, originalmente Manchete FM (do grupo Bloch), depois Manchete Gospel (na verdade, a Manchete FM arrendada pela Igreja Apostólica Renascer em Cristo), depois se revezando entre a Nova Brasil FM e Nossa Rádio FM (a Igreja Internacional da Graça de Deus arrendando a rádio Nova Brasil de Orestes Quércia). Nesse dia de 2010, a antiga 89,3 virou repetidora da Globo AM, mudando para FM 89,5 no dia 26 de fevereiro de 2011, por ordem da Anatel.
Neste cenário todo, lamento muito as atitudes do Sindicato dos Radialistas, que deveria ter feito muito mais pela categoria, diante do surgimento do rádio AM+FM. Deveriam ter feito protestos públicos, quem sabe até convocando uma greve dos radialistas do Rio de Janeiro.
Não creio que haja uma solução a curto prazo para este gravíssimo problema do rádio AM+FM. Minha ideia é que as "otoridades" já deveriam ter tomado providências. Não só as governamentais, mas também os parlamentares. Já passou da hora de aparecer um senador ou deputado propondo uma nova lei: a cada vez que uma emissora FM virasse repetidora de uma rádio AM da mesma cidade ou região, teria 30 dias corridos para colocar no ar uma grade de programação distinta da AM. Caso não fizesse isso, estaria automaticamente extinta a outorga da FM, devendo o Governo fecha-la em definitivo, imediatamente, licitando o canal novamente e proibindo o grupo concessionário desta FM e da AM (mesmo que não sejam o mesmo, no caso de arrendamento de rádios) de participarem da licitação. Poderia-se também ser extinta automaticamente a outorga de uma FM se ela repetisse uma rádio AM da mesma cidade ou região durante um número alternado de dias dentro de um período de 365 dias. Poderiam ser 60 ou 90 dias. Cada um pode propor uma ideia para um número diferente de dias.
Eu fico por aqui. Quem quiser dar mais sugestões sobre este ou outros assuntos, pode usar o espaço de comentários ou os endereços do TRIBUTO no Yahoo Mail, no Twitter e no Facebook.
Tenham uma excelente semana!
Marcelo Delfino
Editor do Tributo ao Rádio do Rio de Janeiro
www.radiorj.com.br
www.twitter.com/radiorj
www.facebook.com/radiorj
Rádios brasileiras que tem simultaneamente um canal de AM e outro de FM na mesma região ou cidade há desde que surgiu oficialmente o FM no Brasil. Mas, ao longo da história, a tradição era de que a rádio AM tivesse uma programação de AM, falada, com comunicadores, debates, jornalismo prolongado, algumas músicas, programas e transmissões esportivas, enquanto que a rádio FM, mesmo tendo o mesmo nome, tinha uma programação musical e cultural, com jornalismo discreto, para cumprir o mínimo que toda rádio deve ter, que é de 5% da grade, podendo ser notícias espalhadas ao fim de cada módulo musical, um noticiário curto de hora em hora ou até mesmo um jornal falado inteiro de meia hora, apenas uma vez por dia. O rádio AM+FM é algo diferente disso, porque consiste na transmissão da mesma programação, do mesmo grupo e com o mesmo nome fantasia em dois canais: um AM, outro FM
Esse tipo de operação, logo de cara, tem uma torpe justificativa dos radiodifusores: "agora nosso ouvinte pode escolher nos ouvir em AM ou FM". Só que os "ezecutivos" radiofônicos não falam da perda de um direito verdadeiro: o de o ouvinte escolher ouvir uma programação diferente. Colocar uma rádio transmitindo simultaneamente em AM e em FM impede a transmissão de uma programação alternativa no FM. Essa FM acaba virando uma opção a menos no dial FM, ao invés de "uma opção a mais". Só isso deita por terra outras justificativas dos "ezecutivos": a de que o rádio AM tem mais interferências e de que muitos dispositivos móveis não sintonizam AM, porque nisso as rádios que optam por transmitir só em FM fazem melhor: não ocupam dois canais simultaneamente. Mesmo considerando que transmitir AM em FM é uma atitude condenável, como descrevi aqui. Mas pior que fazer AM em FM é fazer AM+FM.
Outra consequência do rádio AM+FM é o desemprego entre os radialistas. Pra fazer uma rádio dessas, os radiodifusores geralmente demitem profissionais das rádios AM e FM fundidas. Os caras multiplicam seus lucros, pois fazem uma única programação, pagam apenas um quadro de funcionários, acrescido apenas do custo de mão-de-obra e de equipamentos necessários para manutenção de dois parques de transmissão, mas cobram pelos anúncios nas duas frequências. Para as "otoridades" governamentais, são duas emissoras, e se são pessoas jurídicas distintas, os bancos que concedem financiamentos também consideram serem duas empresas. Mas, na prática, é uma só rádio gerando lucros maiores para o radiodifusor. Para o ouvinte, são dois canais desperdiçados com a mesma programação, quando uma delas poderia estar transmitindo uma grade diferente..
Os primeiros registros de emissoras de grandes cidades com transmissão simultânea da mesma programação em AM e FM datam dos anos 90. Uma das primeiras foi a CBN de São Paulo, por volta de 1995, seguida pouco tempo depois pela Rádio Bandeirantes. A praga se espalhou pelo país nos anos 1990 e 2000. Em Salvador, Rádio Metrópole. Em Belo Horizonte, Rádio Itatiaia. Porto Alegre já tinha a Rádio Gaúcha, do Grupo RBS, e eis que recentemente o Grupo Record-IURD fez o desfavor de acabar com a adulta Guaíba FM pra tranforma-la em repetidora da Guaíba AM.
Nessa história toda, o Rio de Janeiro se transformou, infelizmente, na capital brasileira do rádio AM+FM, com TRÊS rádios. A primeira foi a CBN, presente simultaneamente em AM 860 e FM 92.5 desde 4 de julho de 2005, a partir da extinção da Globo FM, com a ilegítima justificativa de concorrer no FM com a recém-inaugurada Band News Fluminense FM 94,9. A coisa desandou de vez em 1º de junho de 2009, com a inauguração do canal simultâneo de FM 96,5 da Tupi AM 1280, que arrendou (e exterminou) a histórica Antena 1 Lite FM 103,7, jogou para lá a sua Nativa FM (que era em FM 96,5, canal próprio do grupo Associados) e transformou a 96,5 em repetidora da Tupi AM, não restaurando a Tupi FM original, que era uma rádio que tocava música instrumental e standards de diversos países. Não demorou muito para que o Sistema Globo de Rádio seguisse o mau exemplo. Inicialmente fundiu as equipes de esportes de suas rádios Globo e CBN, para que a equipe de esportes da Globo usasse o canal de FM da CBN para concorrer com a Tupi em FM. Essa fusão das duas equipes de esportes durou até a Copa do Mundo de 2010, porque depois o SGR fez pior. Em 4 de maio de 2010, a Rádio Globo assumiu (comprando ou arrendando, essa história ainda tem que ser esclarecida) o controle da antiga FM 89,3, originalmente Manchete FM (do grupo Bloch), depois Manchete Gospel (na verdade, a Manchete FM arrendada pela Igreja Apostólica Renascer em Cristo), depois se revezando entre a Nova Brasil FM e Nossa Rádio FM (a Igreja Internacional da Graça de Deus arrendando a rádio Nova Brasil de Orestes Quércia). Nesse dia de 2010, a antiga 89,3 virou repetidora da Globo AM, mudando para FM 89,5 no dia 26 de fevereiro de 2011, por ordem da Anatel.
Neste cenário todo, lamento muito as atitudes do Sindicato dos Radialistas, que deveria ter feito muito mais pela categoria, diante do surgimento do rádio AM+FM. Deveriam ter feito protestos públicos, quem sabe até convocando uma greve dos radialistas do Rio de Janeiro.
Não creio que haja uma solução a curto prazo para este gravíssimo problema do rádio AM+FM. Minha ideia é que as "otoridades" já deveriam ter tomado providências. Não só as governamentais, mas também os parlamentares. Já passou da hora de aparecer um senador ou deputado propondo uma nova lei: a cada vez que uma emissora FM virasse repetidora de uma rádio AM da mesma cidade ou região, teria 30 dias corridos para colocar no ar uma grade de programação distinta da AM. Caso não fizesse isso, estaria automaticamente extinta a outorga da FM, devendo o Governo fecha-la em definitivo, imediatamente, licitando o canal novamente e proibindo o grupo concessionário desta FM e da AM (mesmo que não sejam o mesmo, no caso de arrendamento de rádios) de participarem da licitação. Poderia-se também ser extinta automaticamente a outorga de uma FM se ela repetisse uma rádio AM da mesma cidade ou região durante um número alternado de dias dentro de um período de 365 dias. Poderiam ser 60 ou 90 dias. Cada um pode propor uma ideia para um número diferente de dias.
Eu fico por aqui. Quem quiser dar mais sugestões sobre este ou outros assuntos, pode usar o espaço de comentários ou os endereços do TRIBUTO no Yahoo Mail, no Twitter e no Facebook.
Tenham uma excelente semana!
Marcelo Delfino
Editor do Tributo ao Rádio do Rio de Janeiro
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O problema é que hoje em dia muitos aparelhos/dispositivos não sintonizam a frequência AM, somente a FM. Com isso, muitas rádios AM devem ter pensado que estavam perdendo audiência no AM e por isso, migraram para a faixa FM.
ResponderExcluirComo o amigo Victor deve ter lido no texto, há rádios que adotaram a solução de transmitir só em FM. Uma solução porca, porém melhor do que desperdiçar dois canais com a mesma programação.
ResponderExcluirMais uma vergonha dessa dupla transmissão AM/FM.O que os donos querem é lucro,só isso!Já ouvi boatos que o Sistema Verdes Mares tava querendo comprar a JB FM 99,7 pra transformar como repetidora da Tamoio AM 900.O Rio de Janeiro tem que reagir com força sobre isso.Vai que a Nacional desaloje a Beat 98,pra transformar em repetidora AM (isso é só um exemplo!).O mercado radiofonico está praticamente falido na cidade do Rio de Janeiro.Globo FM,Manchete FM,Antena 1,Cidade,105 FM,Jovem Pan entre inúmeras rádios FM foram limadas do dial,seja por compra ou por arrendamento.Um dia desses ouvi um pastor da IMPD dizendo que Ap Valdemiro Santiago estava querendo comprar a frequencia 95,7,atualmente ocupado pela Sul América Paradiso do Grupo Dial.Só que há um concorrente no meio:Edir Macedo,segundo fontes de um ombreiro,que não cito nome,tbm está de olho nos 95,7,para ser a terceira rádio 100% IURD.Não vamos deixar isso dominar!Viva o rádio do Rio de Janeiro!E fora os oportunistas,pastores corruptos,que só sabem lucrar e demitir funcionários!
ResponderExcluirPode colocar a Igreja Pentecostal Deus é Amor e a Igreja Paz e Vida nessa lista aí da 95,7. E até a Assembleia de Deus do Pr. Edinaldo Silva, que já está botando anúncios na 93 FM. É, aquele pastor da Proclamar FM 91,9 de Caxias.
ResponderExcluirÉ meu caro Marcelo!A Igreja Pentecostal Deus é Amor (ou en español,Iglesia Pentecostal Dios es Amor,como diz o Missionário David Miranda) jamais dominou o dial de Frequencia Modulada,vulgo FM.Ainda bem,mas é bom ficarmos alerta!Pq o missionário é bem ágil,direto e persistente da compra!Ah e tem tambem a Canção Nova que domina o rádio,além do AM,tambem está no FM ,e o Monsenhor Jonas Abib,assim como David Miranda,tambem é insistente na hora de comprar ou arrendar!Pois é,o dial FM carioca é hoje é bastante cronico,sinceramente....
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