Catedral FM: muito blá blá blá, pouca música, nenhuma cara
http://www.tvsdorj.com/2011/09/catedral-fm-muito-bla-bla-bla-pouca.html
Fundada em 8 de dezembro de 1992, a Rádio Catedral nasceu do esforço do então arcebispo do Rio, cardeal Dom Eugenio Sales, e do cônego Abílio Vasconcellos. Em uma concorrência, nos anos 80, eles tentaram obter para a Fundação Catedral a outorga de FM 93,3 do Rio de Janeiro, que acabou concedida aos sócios Edson Dominguez e Arolde de Oliveira. Mais tarde, em outra concorrência, a Fundação conquistou a outorga de FM 106,7 de São Gonçalo.
No início, a Catedral FM não tinha identidade. Mesclava programas católicos com programação musical popularesca, imitando a ainda não-evangélica FM 105,1. Foi em meados de 1995 que a Catedral FM assumiu a atual configuração: atualmente ela apresenta programas católicos, e outros de interesse público geral. A rádio é, hoje, um contraponto democrático à programação pasteurizada de quase todas as rádios evangélicas.
Vale lembrar que a Catedral foi a primeira rádio FM sediada na cidade do Rio de Janeiro a instalar transmissores no Morro do Mendanha, somando aos do Morro do Sumaré.
Esta é uma adaptação do texto da resenha que mantenho há anos no TRIBUTO. Agora, vamos aos detalhes contados ou não pela rádio.
Já escrevi em outros lugares e outras oportunidades que eu fui voluntário da minha paróquia junto à Catedral FM, nos anos de 1993 e 1994. Quando eu cheguei, o diretor geral era o cônego Abílio. Antes de eu deixar o voluntariado da rádio, cônego Abílio foi substituído pelo cônego Aroldo Ribeiro, que deixaria a emissora muitos anos depois. Cônego Abílio costumava dizer que, bem antes de haver a Fundação Catedral, teve um sonho com Nossa Senhora de Fátima, santa de devoção da maioria dos católicos portugueses, como ele. A santa teria dito ao padre que era a hora de o Rio de Janeiro ter uma rádio católica, já que a cidade tinha muitas rádios evangélicas.
Minhas tarefas eram divulgar a rádio na minha paróquia e levar para a rádio fichas de inscrição de novos Amigos da Rádio (ouvintes dispostos a fazerem uma doação mensal fixa para a rádio). Deixei o serviço porque estava atrapalhando minha vida profissional e porque percebi que não teria a menor condição de emplacar sugestões de mudanças (minha ou dos outros paroquianos) para a programação da emissora. Eu também discordava dos rumos que a direção da casa dava à emissora. A rádio estava tomada na época por uma grade de sucessos populares (até trilha do seriado Cavaleiros do Zodíaco os caras tocavam) e por programas AM em FM. Numa das últimas reuniões de representantes paroquiais em que eu estive, o então diretor geral Cônego Aroldo Ribeiro disse, com todas as letras, que a Catedral FM era uma "rádio AM no FM".
Também pesou na minha saída a histórica discriminação da rádio contra a juventude (a rádio teve e tem poucos programas destinados a esse público) e a insistência da Arquidiocese em manter uma rádio "estilo AM" numa FM, quando a própria Arquidiocese já poderia ter adquirido uma AM de verdade.
Minha última ligação pessoal com a rádio era o fantástico programa Nova Geração, o melhor programa católico destinado à juventude, em toda a história do dial carioca. Segundo o cônego Aroldo Ribeiro, o Nova Geração colocava frequentemente a Catedral no 3º lugar do Ibope, entre as FMs, no seu horário (sábados, 10 a 11h50). E era o programa com a maior audiência, entre todos da rádio. O programa teve sua última edição em 27 de dezembro de 2003.
A morte, no dia 29 de janeiro de 2004, do meu amigo e jornalista Alex Assis, produtor do Nova Geração, também foi a morte do único defensor de idéias realmente renovadoras e profissionais da Catedral FM.
O loteamento de alguns horários da rádio para políticos membros da Pastoral dos Políticos Católicos naquela mesma época (primeira metade dos anos 2000) fez-me afastar ainda mais da rádio, depois que eu já havia saído. Parece que o loteamento para políticos diminuiu, de lá para cá.
Já em 1993 e 1994, a rádio loteava a grade não-musical para toda sorte de pastorais e movimentos ligados à Arquidiocese do Rio de Janeiro. Em meados dos anos 90, os sucessos populares foram substituídos por músicas católicas. Mas o loteamento da grade para os movimentos e pastorais continua até hoje.
Tem outra questão: a rádio jamais teve uma grade linear, uma "cara", embora tenha uma identidade escancaradamente católica. Cada programa é produzido por equipes diferentes e cada um tem um nível de qualidade diferente. Há programas bem produzidos, mas a maioria é tecnicamente uma lástima. Um verdadeiro desperdício das doações feitas à rádio.
Uma rádio FM deveria ser uma plataforma para cultura, música, jornalismo discreto e, eventualmente, prestação de serviço nos intervalos. Sem fazer concorrência desleal com as AMs. A Catedral FM não se contenta nem mesmo com um hipotético papel de divulgadora da cultura e da música católica. Nada indica que essa situação mudará um dia.
Não satisfeitos com o blá blá blá esportivo já presente em diversas emissoras FM (só em FM ou repetidoras de AM) como CBN, Globo, Tupi, Transamérica e Oi FM, a Catedral FM também tem agora seu programa de debates e notícias esportivas. É o programa semanal Esporte Catedral, que estreou na última quarta-feira às 20:45. Eis o texto do portal oficial da rádio, que mostra até a logomarca oficial do programa:
ESPORTE E RELIGIÃO: UMA MISTURA CAMPEÃ
Preparem-se para uma grande surpresa! Dia 31/08 o ESPORTE CATEDRAL fará sua estreia na Rádio Catedral. Toda 4ª feira, a partir das 20h45, o programa deixará você por dentro de tudo o que acontece no mundo dos esportes (como se as demais rádios não fizessem isso...). Com os comentários de Sergio Ricardo, Leandro Sauerbronn e Pe. Lino (capelão do Vasco da Gama), as noites de 4ª feira nunca mais serão as mesmas.
Se o surfista Pe. Zeca não tivesse deixado o ministério sacerdotal, provavelmente teria sido convidado para a equipe do programa.
Com mais esse programa de blá blá blá esportivo, o dial FM carioca afunda cada vez mais.
Por enquanto, é esse o texto que tinha para escrever, ainda sob o impacto da notícia da criação do programa Esporte Catedral. Até que eu publique o próximo texto, os leitores podem continuar fazendo o de sempre: comentar aqui, ou mandar os comentários diretamente para o TRIBUTO.
Tenham uma excelente semana.
Marcelo Delfino
Tributo ao Rádio do Rio de Janeiro
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Essa eu não sabia. Rádios também transmitem do Mendanha? A frequência é a mesma do Sumaré?
ResponderExcluirAs frequências são as mesmas. Transmitem simultaneamente do Sumaré e do Mendanha: a Catedral em 106,7, a 93 FM em 93,3, a JB FM em 99,7, a FM O Dia em 100,5 e a Tupi em 96,5.
ResponderExcluirA Costa Verde FM 91,7 de Itaguaí também transmite do Mendanha, mas não do Sumaré. E agora mesmo que não transmitirá do Sumaré, com o advento da Kiss FM 91,9.
ResponderExcluirAqui em Sulacap, não percebi nenhuma melhora da JB FM com essa retransmissão dela no Mendanha. Será que a Globo também não tem retransmissora no Mendanha? Por aqui, o sinal do Mendanha é razoável e o do Sumaré também e pega-se rádios e canais de TV de Petrópolis.
ResponderExcluirNão vou entrar no mérito das críticas, mas já que foram feitas, seria de bom tom expor o que se esperaria de uma rádio católica, especialmente com sugestões acerca da programação. E não me parece nada demais uma emissora da Arquidiocese do Rio ter uma programação formada por pastorais e movimentos ligados à Arquidiocese do Rio...
ResponderExcluirqueria a Jovem Pan aqui '-' seria um alivio quando a mix começa a toca Cine.. Restart, Seu Jorge Êeee
ResponderExcluirO mínimo que se poderia esperar da Catedral FM seria um rigor na produção dos programas. A rádio só tem identidade católica, mas não tem uma programação linear, identificável em qualquer horário. Quando se compara alguns programas com outros, nem parece que estamos ouvindo a mesma rádio. Fica parecendo aquelas locadoras de horários, como a Band AM 1360 e a Metropolitana AM 1090.
ResponderExcluirEu já sugeri que a rádio fizesse uma abordagem dos aspectos culturais, musicais e artísticos das músicas e intérpretes de música popular católica que executam, não se atendo apenas a aspectos teológicos. Mas nunca me ouviram.
Também sugeri implantar alguma coisa que continuasse o trabalho com a juventude feito pelo programa Nova Geração. Também não me atenderam. Quem sabe o JMJ 2013 seja um pretexto para mudanças positivas na rádio. Tomara!
No inicio da radio catedral as musicas populares eram todas cortadas ou sejas sem surada em partes das musicas.
ResponderExcluirSou católico e não consigo ouvir a Rádio Catedral FM. Tenho a mesma opinião que você, meu caro Marcelo Delfino.
ResponderExcluirHouve um tempo em que eles organizaram uma webradio só musical. Era a Catedral Musical Online e para acessá-la era preciso acessar o site.
O site mudou (melhorou muito por sinal!) mas a webradio alternativa foi pro espaço. Soube que o cara que a criou nem tá mais trabalhando lá.
É isso mesmo. Quem programava a Catedral Music Online não trabalha mais lá. Não ficou ninguém para programar as músicas.
ResponderExcluirparabens pela otima programação da Radio catedarl FM 106,7,,,ouço quase 24 hs
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